Schlanstedt

Entao, depois de mais horas e horas cruzando as mudernas estradas alemas, chegamos em Schlanstedt. E eu digo - foi simplesmente um dos dias mais incriveis da minha vida. Schlanstedt é uma cidade no interior do interior do interior da alemanha comunista. Um lugar esquecido como jamais vi um. A primeira vista, me pareceu tiradentes, uma cidade com quase zero habitantes, perdidissima no meio do mapa, depois de horas de plantacoes de graos nos campos. É um lugar onde voce jamais imaginaria que tem uma cidade. Chegamos la, nao vimos uma pessoa sequer na cidade. Parecia um filme de zumbi. Um lugar perdido nos confiiiiiiiiiiins da alemanha comunista. Com ninguem na rua. Uma cidade minuscula. Nao parecia ser um lugar pra ter uma festa de musica eletronica. A cidade é essa aí da foto. Chegamos no clube... Era no meio de um descampado, num lugar abandonado, num predio de 1800 e pouco. Nao tinha ninguem lá, e fomos comer. O unico restaurante da cidade era dentro de um... castelo. Nao tinha posto de conveniencia, nao tinha praca principal, nao tinha nada. Alias, depois descobrimos que nao era uma cidade, e sim um ´burgo´, seja la o que isso significar. Chegamos entao no tal castelo, no meio do nada. Nos atendeu um senhor velho, com a familia... Eles sao os herdeiros oficiais do lugar, e vivem la. A casa deles foi construida no ano de NOVECENTOS E CINQUENTA. Sim, 950, mais de mil anos atrás. Ele colocou uma mesa do lado de fora e disse o que tinha pra comer. Nao era um restaurante, era um castelo que servia comida pros viajantes, quando fosse o caso. Surreal. Tinha poco, calabouco, torre... E a casa tinha nada menos que 88 comodos. Foi anoitecendo e tudo cada vez mais estranho, parecia um sonho. Tinha até um corvo que o dono do lugar chamava pelo nome, e ele vinha e pousava na mao dele. Chegou uma hora que estava tudo tao estranho que se ele beijasse o corvo e ele virasse uma princesa eu nem ia achar estranho. Subimos na torre, conhecemos o calabouco (que, diz ele, ainda tinha ossos), comemos carne de veado, tomamos cerveja quente e fomos la passar o som. Quando chegamos no clube, eu saquei que um castelo de mil anos nao era nada perto do que nos esperava. O clube era num lugar ENORME, uma fabrica abandonada de mais de cem anos, no meio de um descampado imenso, longe de tudo. La dentro era o lugar mais industrial e louco que ja coloquei os pés. Nao tem como explicar, vou conseguir descarregar as fotos e postar aqui. O tecnico de som nao falava ingles, mas foi possivel o soundcheck. Quando o povo foi chegando, mais choque ainda. Era um monte de gente completamente diferente de tudo que ja vi. Acho que as pessoas mais puras que ja presenciei na frente. O povo do interiorzao comunista da alemanha, criados até uma certa epoca longe da bobajada hollywood e dos sonhos de consumo americanos (que tornam berlin, rio, bh e tudo mais igual). Gente com yero de apego pela moda, glamour, hype ou qualquer outra coisa assim. Um monte de jovem com uma unica meta na cabeca - diversao. (ai, ai, nao to conseguindo me expressar nem 1/10 do que eu queria) O lugar tinha umas 10 salas. Na pista de baixo tinh um DJ tocando Gabber como nunca vi na vida, e a molecada toda pulando até de manha). Na pista de cima, os electros e houses pro povo um pouco mais calmo. Achei foda poder tocar pra gente que nao tinha ainda esse vicio chato de excesso de informacao que assola o mundo hoje em dia. O povo só se ligava na musica, e em mais nada. O lugar comecou a fica cheio um pouco antes do nosso show. Vinha gente dos burgos de perto, um monte de carros com jovens muito doidos dentro. Se em Cologne tava cheio de gente bem vestida e classuda que gostava de minimal, aqui a historia era bem outra. Um monte de meninos street completamente isolados do resto do mundo tentando recuperar os anos perdidos nessa noite. Se eles estivesse ai em BH, diriam que eram ZNs, cybermanos ou algo que o valha. Mas pra mim tocar pra esse povo era uma experiencia que valia mais que qualquer coisa. A katya, nossa tour manager desse dia ja havia avisado - era um povo que estava ali só pela musica. Os promoters, DJs, o publico... Nao era pelo dinheiro, nao era pelo hype. Era a coisa da forma mais pura possivel, musica eletronica ilegal e punk em lugares inusitados longe de tudo e de todos. Foi assim que tudo comecou, nao?

Foram umas 800 pessoas na festa, e, depois do nosso show, ficamos sabendo que nunca havia tido um live act por la. As pessoas simplesmente jamais haviam visto musica eletronica ao vivo. Ficou todo mundo empoleirado ao lado do palco, viajando pesado nas coisas... Botoes, teclas, knobs... Foi foda, muito foda.

Na hora de ir embora, as 7 da manha, ainda tinha muita gente chegando. E tambem descobrimos mais um habito do pessoal - as festas dentro do carro. Iam chegando os furgoes, e as pessoas simplesmente colocavam techno algo e ficavam la dentro. Muuuuuuuuitas drogas tambem, diga-se de passagem Muuuuuuuuuuuitas drogas. Nao tem policia na cidade, e mesmo se tivesse, o acesso ao local da festa era quase impossivel.

Parecia algo tipo a Ucrania, Bielorrusia. Nao foi uma experiencia ocidental.

Depois do show, o promoter veio com quatro tortas pra gente. Falou que era um presente.

Sim, tortas.

Eu nunca tinha ganhado uma torta de presente de um promoter.

Faltou mil detalhes que na hora eu falei ´Nao posso me esquecer disso´. Mas acho que me esqueci.

Anyway, foi um top 5 dos dias mais inesqueciveis da minha vida.

ps - Durante o show tinha um senhor de 70 anos dancando sem parar. Depois descobrimos que era o dono de uma cidade ao lado. Seja la o que isso significar. Meu primeiro show num lugar medieval.

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BPM